A ampelografia é a ciência dedicada à descrição, identificação e classificação das variedades de videiras (Vitis vinifera e outras espécies do gênero Vitis), com base em suas características morfológicas, fisiológicas e, atualmente, genéticas.
Historicamente, a ampelografia desempenhou um papel crucial no desenvolvimento da viticultura mundial, sendo essencial para a conservação da biodiversidade vitícola e a escolha das castas mais adequadas a cada terroir.
O termo deriva do grego antigo: ampelos (videira) + graphos (escrita ou descrição), e surgiu de forma sistemática nos séculos XVIII e XIX, com estudiosos como Pierre Viala e Victor Vermorel, autores de uma das obras mais influentes da disciplina.
Critérios morfológicos clássicos
Antes do advento das técnicas moleculares, a identificação das castas era realizada observando-se minuciosamente características visuais e morfológicas, entre as quais:
- Forma e tamanho das folhas: lobadas, inteiras, recortadas, com seios peciolares abertos ou fechados.
- Pelos e textura: densidade de tricomas (pelos) na página inferior da folha.
- Cor da gema: avaliação da cor da gema no momento do desborre.
- Forma e compactação dos cachos: cacho solto ou compacto, cônico, cilíndrico ou alado.
- Cor e forma das bagas: tonalidade da película (verde, dourada, rosada, azulada, preta) e diâmetro das bagas.
- Crescimento do sarmento: coloração dos nós e entrenós, porte ereto ou semi-ereto.
Esses elementos eram registrados em catálogos que compunham a base da classificação varietal.
Classificação moderna: genética e DNA
Nos últimos 30 anos, o avanço da biologia molecular revolucionou a ampelografia. Técnicas como microssatélites (SSR) e sequenciamento de DNA permitiram uma identificação mais precisa e inequívoca das castas, inclusive distinguindo variedades com morfologias muito semelhantes (casos de sinonímia e homonímia, como Primitivo e Zinfandel ou Tempranillo e Tinta Roriz).
Além disso, foi possível rastrear origens genéticas, linhagens parentais e mutações que deram origem a clones específicos, como o caso do Pinot Noir, progenitor do Pinot Blanc e do Pinot Gris.
Classificação das castas
A classificação das castas pode ocorrer segundo diversos critérios:
Finalidade enológica:
- Uvas para vinhos tranquilos (ex.: Cabernet Sauvignon, Chardonnay)
- Uvas para espumantes (ex.: Pinot Noir, Glera)
- Uvas para fortificados (ex.: Touriga Nacional, Moscatel de Setúbal)
- Uvas para vinhos doces naturais ou botrytizados (ex.: Sémillon, Furmint)
Cor da película:
- Brancas (uvas verdes/douradas): Sauvignon Blanc, Riesling, Albariño
- Tintas (uvas de película escura): Syrah, Malbec, Nebbiolo
- Uvas grisáceas ou rosadas: Pinot Gris, Gewürztraminer
Origem geográfica:
- Castas francesas: Merlot, Syrah, Chenin Blanc
- Castas italianas: Sangiovese, Barbera, Nero d’Avola
- Castas espanholas: Tempranillo, Garnacha
- Castas portuguesas: Touriga Franca, Encruzado, Alvarinho
Ciclo vegetativo:
- Ciclo precoce: maturação antes de setembro (Hem. Norte) – Pinot Noir, Chardonnay.
- Ciclo tardio: maturação em outubro ou mais – Cabernet Sauvignon, Nebbiolo.
Perfil aromático:
- Neutras: Sangiovese, Trebbiano
- Aromáticas: Moscato, Gewürztraminer, Torrontés
Importância da Ampelografia
A correta identificação das castas evita problemas como a plantação equivocada em terroirs inapropriados ou a perda de identidade de vinhos tradicionais. Além disso, a diversidade genética resguardada pelos estudos ampelográficos permite que viticultores escolham variedades mais resistentes a doenças e adequadas às mudanças climáticas.
Atualmente, bancos de germoplasma e coleções ampelográficas, como a de Montpellier (França) e da Estação Vitivinícola Nacional (Portugal), são centros de pesquisa fundamentais para a manutenção e estudo desse patrimônio vitícola global.
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