Apesar do nome, a fermentação malolática (FML) não é uma fermentação alcoólica, mas sim uma descarboxilação biológica conduzida por bactérias láticas, principalmente do gênero Oenococcus oeni.

Esse processo converte o ácido málico — naturalmente presente nas uvas e responsável por uma acidez mais agressiva — em ácido lático, mais suave e cremoso, além de liberar dióxido de carbono (CO₂).

Essa transformação não apenas reduz a acidez, como também contribui para o perfil sensorial, a estabilidade microbiológica e até mesmo a longevidade do vinho.

Quando a FML ocorre?

Ela pode ocorrer de três maneiras:

Condução da FML: controle técnico é fundamental

Fatores que influenciam a FML:

  1. Temperatura: Ideal entre 18–22 °C.

  2. pH: Mais eficiente entre 3,2–3,5. pHs abaixo de 3,2 dificultam sua ocorrência.

  3. Nutrientes: Ácido málico disponível, além de nutrientes específicos para as bactérias.

  4. SO₂ (dióxido de enxofre): Altos níveis de SO₂ inibem a FML.

  5. Presença de álcool: Altas concentrações alcoólicas (>14%) podem prejudicar a atividade das bactérias.

Técnicas de condução:

  • Co-inoculação: leveduras e bactérias são adicionadas juntas, encurtando o processo total.

  • Inoculação sequencial: a FML é iniciada após o término da fermentação alcoólica.

  • Controle microbiológico: uso de culturas selecionadas permite maior previsibilidade e segurança.

Benefícios da FML

  • Redução da acidez: torna o vinho mais suave e redondo.

  • Estabilização microbiológica: evita fermentações indesejadas na garrafa.

  • Complexidade sensorial: notas de manteiga, avelã, baunilha e iogurte, muito comuns em Chardonnays fermentados em barrica.

  • Amaciamento de taninos: suaviza a textura do vinho, especialmente tintos de estrutura firme.

Riscos e desafios

  • ⚠️ Produção de compostos indesejáveis: em condições não controladas, podem surgir aminas biogênicas ou acidez volátil (ácido acético).

  • ⚠️ Retardo ou não ocorrência da FML: especialmente em vinhos com baixo pH ou altos níveis de álcool/SO₂.

  • ⚠️ Perda de frescor: nem todo vinho se beneficia da FML — brancos aromáticos como Riesling ou Sauvignon Blanc podem ter sua vivacidade prejudicada.

  • ⚠️ Contaminação cruzada: em adegas com múltiplos estilos de vinho, a ocorrência indesejada de FML pode arruinar um lote.

FML e estilos de vinho

  • Tintos estruturados (Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah): a FML é praticamente obrigatória.

  • Brancos encorpados (Chardonnay, Viognier): a FML adiciona cremosidade e complexidade.

  • Espumantes e brancos frescos: normalmente se evita a FML para preservar acidez e frescor.

Tendências atuais

Muitos produtores de vinhos naturais ou de mínima intervenção permitem que a FML ocorra espontaneamente, mesmo em vinhos brancos. Já os enólogos mais técnicos preferem condução rigorosa, buscando equilíbrio entre controle microbiológico e expressão aromática.

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